BRICS discute regulamentação da Inteligência Artificial e Brasil avança com Projeto de Lei 2338/23
Brasília, 31 de maio de 2025
Englobando mais de 40% da população mundial e exercendo influência crescente nos cenário global, os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão agora direcionando a sua atenção a um dos temas mais desafiadores e estratégicos da atualidade: a regulamentação da Inteligência Artificial (IA).
Durante um fórum parlamentar do grupo, representantes destacaram o potencial transformador da IA em áreas como saúde, educação, trabalho, agricultura e indústria, mas alertaram para a urgência de se estabelecer normas éticas e jurídicas comuns. O objetivo é garantir que o avanço tecnológico ocorra de forma responsável e igualitária entre os países em desenvolvimento.
A pesquisadora de direito e tecnologia Paula Guedes apontou que, embora o bloco tenha grande potencial para democratizar o acesso à IA, é preciso considerar os históricos desafios sociais e econômicos enfrentados por esses países.
“Olhando as particularidades desses países, os principais desafios são históricos: promover a inclusão das pessoas, combater a desigualdade social e tentar que a tecnologia não acabe violando direitos fundamentais e reforçando diversas discriminações”, destacou durante a sessão.
Brasil avança com o Projeto de Lei 2338/23
No Brasil, a regulamentação do uso da inteligência artificial vem ganhando forma por meio do Projeto de Lei 2338/23, já aprovado pelo Senado e atualmente em análise por uma comissão especial na Câmara dos Deputados. O projeto estabelece um marco legal para o uso da IA, classifica os sistemas conforme o grau de risco e define diretrizes para sua aplicação ética e segura.
Segundo o texto, os sistemas de inteligência artificial serão divididos em IA tradicional e IA generativa. Esta última abrange tecnologias como chatbots, geradores de imagem, áudio e vídeo por máquina, como é o caso de modelos similares ao ChatGPT e outras IAs generativas amplamente utilizadas no mercado.
A presidente da comissão especial, deputada Luisa Canziani (PSD-PR), enfatizou a importância de o Brasil desenvolver sua própria indústria tecnológica e não apenas consumir tecnologias estrangeiras.
“Nós queremos que a legislação que venhamos a aprovar aqui na Casa possa acompanhar os desafios regulatórios que o mundo tem vivenciado e que possa também colocar o Brasil no mapa da inteligência artificial. A gente quer, enquanto país, desenvolver a inteligência artificial, e não só consumir”, afirmou a deputada.
Classificação de riscos e proteção de direitos
1. Classificação de riscos
O PL 2338/23 propõe uma classificação baseada no nível de risco que cada sistema pode representar, tanto à vida humana quanto aos direitos fundamentais. Sistemas considerados de risco excessivo, como armas autônomas e softwares que analisam personalidade para prever crimes, estão expressamente proibidos.
2. Limitação de casos específicos
Além disso, o projeto impõe limites ao uso de câmeras de reconhecimento facial em espaços públicos, que só poderão ser utilizadas em situações excepcionais, como em buscas por vítimas de crimes ou desaparecidos, sempre com autorização judicial e em crimes com pena superior a dois anos.
3. Direitos autorais e privacidade
Outro ponto de destaque é a proteção à propriedade intelectual. O projeto determina que o uso de obras protegidas por direitos autorais no treinamento de sistemas de IA só poderá ocorrer de forma gratuita em instituições de pesquisa, jornalismo, museus e bibliotecas, e sem fins comerciais. Caso contrário, o uso dependerá de autorização do titular e eventual remuneração.
Desenvolvimento com responsabilidade
O debate global sobre a IA não gira apenas em torno de inovação. Como destacou novamente Paula Guedes, “a boa regulação é aquela que estimula a inovação – mas é uma inovação que seja responsável”. Isso significa garantir transparência, equidade e responsabilização em cada etapa do desenvolvimento e aplicação de tecnologias inteligentes.
Nesse sentido, a atuação coordenada entre os países do BRICS representa uma oportunidade estratégica para que o Brasil se posicione de forma soberana no cenário tecnológico global, sem abrir mão de proteger os direitos de sua população e, ainda assim, fortalecer seu sistema industrial.
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