Trump: Empresas brasileiras entram na mira da taxação americana de aço e alumínio; Gerdau fica fora da cobrança

Análise do Bradesco BBI aponta movimentação nas ações de siderúrgicas do Brasil. Gerdau lidera posição no mercado brasileiro de aço impulsionando a indústria transnacional do país. Entenda melhor em detalhes abaixo
aço

Brasília, publicado em 14/03/2025

Nesta quarta-feira (12) os investidores brasileiros começaram a se deparar com os primeiros efeitos da taxação de aço e alumínio anunciada pelo governo estadunidense de Donald Trump, ainda em fevereiro. 

Entre as diversas medidas do novo presidente dos EUA que já vêm abalando os mercados globais, a mais recente delas é a tarifa de 25% aplicada sobre a importação de todo o aço e alumínio que entra nos Estados Unidos. A ação já demonstrou os primeiros sinais de impacto à indústria brasileira. 

No início de fevereiro, as ações das siderúrgicas não registraram fortes quedas, de forma que o mercado observou apenas um impacto contido. Embora o setor siderúrgico brasileiro no geral ainda possa de fato vir a enfrentar dificuldades a longo prazo, especialistas apontam que a Gerdau é uma das empresas que mais pode se beneficiar das medidas.

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Governo de Trump tem como uma das principais bases o protecionismo econômico dos Estados Unidos. Foto: Reuters

Devido à sua produção local nos EUA, o vigor das novas taxações não irá causar um impacto negativo para a maior empresa produtora de aço do Brasil. Na verdade, a medida pode colocar a Gerdau em uma posição de domínio do mercado, alavancando possivelmente as ações da empresa, além de valorizar a Gerdau em termos de competitividade.

Diante do novo cenário da concorrência, uma análise do Bradesco BBI apontou possíveis impactos nas ações das seguintes siderúrgicas brasileiras:

Gerdau (GGBR4) – impacto positivo

Além do maior volume de aço da Gerdau ser vendido e produzido localmente nos EUA, a empresa também conta com de 50% de lucro a partir de juros, impostos, depreciações e amortizações a partir de suas operações americanas. Dessa forma, com a implementação das tarifas, a previsão é que ocorra um impacto positivo nos números da Gerdau, que sairia ilesa da estratégia protecionista dos Estados Unidos.

“Observamos, no entanto, que os produtos de aço longo representam menos de 20% das importações totais de aço dos Estados Unidos, o que implica em um benefício relativamente maior para os preços do aço plano”, apontaram os analistas do BBI.

Usiminas (USIM5) – impacto imaterial

O BBI estima que apenas 2,5% do Ebitda – que é a sigla em inglês para “Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização” – consolidado da empresa vem da América do Norte. No entanto, com o Brasil fornecendo mais de 60% da necessidade de aço semiacabado dos Estados Unidos (principalmente as placas), as tarifas potenciais podem resultar em maior disponibilidade de placas para o Brasil. Ou seja, a medida resultaria em custos mais baixos para a Usiminas.

CSN (CSNA3) – impacto imaterial

No mercado interno brasileiro, o aço está sendo vendido por um preço consideravelmente alto. Portanto, focar no comércio brasileiro está soando mais lucrativo aos investidores do que exportar o aço para outros países. Desse modo, a CSN tem focado suas estratégias no mercado interno, sem recorrer aos mercados de exportação em seu histórico dos últimos trimestres.

CBA (CBAV3) – impacto imaterial

O BBI estima que aproximadamente 3% do Ebitda (Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) da CBA tem origem das negociações com os Estados Unidos Com isso, devido à relação comercial da empresa com os EUA, a reação à taxação de Trump pode ser moderada, avalia o BBI. Os próximos passos se darão de acordo com as próximas decisões do governo brasileiro, dependendo do teor da resposta – e se haverá contraponto do governo americano.

Impacto para o Brasil: Gerdau sai na frente?

Segundo avaliação da Comissão de Economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec), empresas como CBA, Usiminas e CSN podem enfrentar dificuldades caso as tarifas sejam realmente impostas. A nova rodada de tarifas comerciais anunciada pelo ex-presidente Donald Trump tem gerado apreensão à Apimec, que alertou que a “iminente guerra comercial não é favorável para o Brasil e para o mundo”, e que as próximas semanas serão cruciais para medir os impactos reais sobre as exportações brasileiras.

Dados do American Iron and Steel Institute mostram que o Brasil exportou 4,49 milhões de toneladas líquidas de aço em 2024, um crescimento de 14,1% em relação a 2023. No entanto, as proteções comerciais adotadas pelos EUA desde o primeiro mandato de Trump ampliaram a capacidade produtiva da indústria siderúrgica americana em 20% nos últimos seis anos, reduzindo a necessidade de importações.

Além disso, um novo anúncio de Trump na última terça-feira (11) pode impulsionar ainda mais a presença do Brasil através da Gerdau. O republicano chegou a dobrar a tarifa sobre produtos de aço e alumínio do Canadá, elevando a taxa para 50%. A medida veio em resposta à decisão da província canadense de Ontário de impor uma tarifa de 25% sobre eletricidade exportada aos EUA. Com essa escalada de restrições ao aço canadense, produtores locais — como a Gerdau, que opera dentro dos EUA — podem continuar se beneficiando ainda mais do aumento da demanda interna.

Entenda a motivação das tarifas

A política comercial de Trump se baseia no conceito de “America First”, priorizando a produção interna e retaliando países que impõem barreiras aos produtos americanos. Dessa vez, a justificativa para as novas tarifas é que, segundo o governo dos EUA, há mais barreiras para produtos americanos no exterior do que na entrada de produtos importados no país.

A média tarifária de importações no Brasil é de 12,4%, enquanto nos países desenvolvidos da OCDE esse valor é de apenas 4%. Esse descompasso tem sido um dos argumentos utilizados por Trump para endurecer as regras comerciais.

O que esperar para o setor siderúrgico do Brasil

O Brasil e os EUA possuem um fluxo comercial intenso na cadeia do aço, movimentando cerca de US$ 7,6 bilhões ao ano. No entanto, com a possível implementação das novas tarifas, empresas brasileiras podem ser forçadas a renegociar cotas de exportação, como aconteceu em 2018, quando o governo Trump impôs uma tarifa de 2%, mas permitiu que o Brasil exportasse 3,5 milhões de toneladas de semiacabados e 687 mil toneladas de laminados.

Ainda assim, a demanda americana por placas de aço segue alta. Em 2024, os EUA importaram 5,6 milhões de toneladas de placas, sendo 3,4 milhões provenientes do Brasil.

O impacto real das novas tarifas no fluxo comercial do aço só será observado com clareza a partir dos próximos meses.

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