Editorial
Aproveitamos para nos solidarizar com todos os judeus e judias a respeito da malograda comparação entre as consequências da guerra entre Israel e o Hamas e o Holocausto, pois entendemos não haver base para qualquer comparação, muito embora entendamos que ambos os eventos são muito caros para os judeus.
Feito este preâmbulo, nos arriscamos a interpretar a infeliz comparação feita pelo Presidente Lula e o oportunismo do Primeiro-Ministro Israelense.
O presidente Lula é um líder que tem as massas em suas mãos e domina a retórica como ninguém. Conquanto a sua sensibilidade com as questões sociais e humanitárias seja visível e muito acima da média dos atuais líderes mundiais, não precisando nem falar que a sua empatia com a pobreza está a mil léguas de distância de Benjamin Netanyahu, uma coisa é o CPF dele, que reflete aquilo que pensa e que acredita e outra coisa é a função de Chefe de Estado e de Governo que ele exerce.
Claro!! Não é fácil separar o ser humano da função de Presidente da República. Como diriam alguns psicólogos “as vezes a gente não dá conta, pois somos humanos e não raramente confundimos os papeis”.
É verdade!! Mas a estrutura federal (assessores etc) está aí para fazer com que até Presidentes da República fiquem “menos humanos”. O que não faltam são protocolos para evitar esses constrangimentos e, pior que isso, evitar as consequências políticas de uma infeliz comparação. Um pedido de impeachment do Presidente já bate à porta e pelo barulho dará o que falar!!
A desventurada comparação rendeu notícia pelo mundo todo.
Mas então por que isso?
Bem, dois grupos têm muito interesse neste fato: a oposição interna ao governo brasileiro e o oportunismo do Primeiro-Ministro de Israel.
Do ponto de vista interno, os benefícios da malograda comparação já se fazem ecoar nos pedidos de impeachment que, embora sem muito fundamento aparente, já é suficiente para abalar a estabilidade política do governo.
Mas é na situação política de Benjamin Netanyahu que os benefícios se fazem ecoar com mais força, pois nada melhor para um governo com queda de popularidade que apelar para o sentimento de dor do povo de Israel que vem do holocausto. Atribuir a figura de “persona non grata” a um mandatário de um país que não tem nenhuma relevância na geopolítica local não passa de uma tentativa para encontrar um bode expiatório para a sua situação política interna.
Pois é!! Em que uma comparação desastrosa desta beneficia o povo brasileiro? E mais, em que a utilização política deste fato por Benjamin Netanyahu ajuda o povo israelense? Lula, no afã de tornar o Brasil importante na complicada relação entre Israel e a Palestina, acaba excedendo o seu papel de Chefe de Governo e Chefe de Estado e acaba por falar a sua própria opinião, Benjamin Netanyahu, no afã de se recuperar politicamente, se comporta oportunisticamente e a crueldade deste ato se reverte para o seu próprio povo.