Editorial

O imbróglio entre Elon Musk e a Justiça Brasileira começou quente no domingo após o dono da rede social “X”, ex-Twitter, fazer severos insultos ao ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, dizendo que o magistrado Alexandre de Moraes seria autoritário, antidemocrático e que teria agredido frontalmente a Constituição Federal do Brasil.

Para entender os fatos é preciso observar que Elon Musk ameaçou não cumprir as decisões judiciais impostas a sua empresa pela Justiça Brasileira e a devolver o pleno acesso da rede social àqueles indivíduos que foram eliminados do “X”, por força da decisão do Supremo Tribunal Federal. De outro lado, o ministro Alexandre de Moraes, vulgo Xandão, reagiu determinando a inclusão de Elon Musk no inquérito das milícias digitais e abrindo investigação em desfavor do dono da empresa “X” por incitação ao crime e obstrução de Justiça.

Onde está o “X” da questão, ou melhor, o “X” do Xandão?

Pode-se responder a esse questionamento falando do ataque da extrema direita no mundo contra os regimes democráticos, o que, aliás, entendemos como um argumento bastante plausível para responder a essa pergunta.

A transformação do ambiente democrático em autocrático é o objetivo da extrema direita e nada melhor que utilizar uma empresa big tech, com o seu alcance global e instantâneo, para implementar esse triste objetivo, fazendo grande confusão do que, de fato, seja liberdade de expressão e sua possível violação.

Ironicamente, a extrema direita agride os Poderes constituídos justificando que o que desejam é a liberdade de expressão. Mas qual liberdade de expressão, se tudo o que está fora da sua cartilha é entendido como um atentado aos bons costumes (homossexualismo, racismo, sexismo etc)?

É exatamente no reducionismo que a extrema direita e as big techs se encontram. A extrema direita entra com o seu pensamento único e absoluto e as redes sociais, que são mestres na destruição da diversidade de pensamento e de ideias, ingressam com os instrumentos para unificar o pensamento dessa mesma extrema direta de modo célere e com alcance global.

Já se escutam as vozes que colocam em evidência o “X” do Xandão e elas vêm das bandas do Congresso Nacional. Possivelmente hoje, (terça-feira), será lida na Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados uma Moção de Aplauso e Louvor pela “coragem” de Elon Musk por enfrentar a Justiça Brasileira. O Requerimento é da lavra do Deputado Coronel Meira (PL) e solicita a aprovação de Moção de Aplauso e Louvor a Elon Musk, dono da rede social “X” (antiga Twitter), por expor e enfrentar a censura política e infundada imposta pela justiça brasileira contra os usuários da plataforma no país.[1]

Um dos Poderes da República -o Legislativo, por um de seus membros – Deputado Federal – busca conceder Moção de Aplauso e Louvor a um estrangeiro que desrespeita outro Poder da República brasileiro – o Poder Judiciário.

 Vivemos uma verdadeira crise da “escuta atenta” e uma confusão infinita sobre o que seja “liberdade de expressão” e seus limites. O “X” da questão está em se avaliar o que é liberdade de expressão e seus abusos e vai do X do Twitter ao X do Xandão.


[1] prop_mostrarintegra (camara.leg.br)

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