Editorial
Nesta semana, Elon Musk anunciou a abertura de vagas para compor o Twitter, após ter demitido 1/3 da força de trabalho da empresa e de ter visto outro 1/3 da força de trabalho pedir demissão.
No editorial da semana passada tratamos da saída voluntária de 1/3 dos funcionários do Twitter[1] e a relacionamos com a teoria do mercado de trabalho dual, sugerindo que esse 1/3 perdido pelo Twitter seria provavelmente uma força de trabalho qualificada que teria o condão de trazer severos prejuízos para a empresa, sobretudo porque seria mão de obra treinada e de alta qualificação disponível para os principais concorrentes.
O anúncio de contratação de profissionais de tecnologia da informação é um sinal luminoso de que algo não anda bem pelos lados da empresa e que o prejuízo é iminente. Mão de obra é fator de produção e, como tal, compõe a função custo de uma empresa. Dada a natureza dos negócios das empresas de alta tecnologia, a mão de obra especializada em tecnologia da informação torna-se fator chave.
O Twitter é uma empresa que atua em um mercado de redes sociais com pouco mais do que três ou quatro empresas concorrentes que produzem bens diferenciados, sendo elas o Facebook e o Instagram do Meta, o LinkedIn e o Koo, empresa indiana com maior semelhança à atividade do Twitter.
Todas estas empresas operam com o chamado “preço zero” para a captação do cliente, pois o cadastro e a utilização das redes sociais são gratuitos, bastando apenas ter rede de internet para que a utilização do aplicativo seja possível. Só que não!!!
Como diria Milton Friedman[2], “não existe almoço grátis” nem neste nem em nenhum negócio, pois há um preço subliminar pago pelo consumidor que se reflete na oferta de informações pessoais e um preço pecuniário pelas empresas de marketing e publicidade.
Então existe preço!!! O consumidor paga com a intimidade e as empresas pagam pelo serviço de acesso as informações dos consumidores.
O preço da intimidade não é objeto deste editorial!!! Fiquemos, pois, com o preço pago pelas empresas de marketing e publicidade e veremos como a demissão voluntária de 1/3 dos empregados do Twitter se encaixa como uma luva em um modelo de Bertrand com bens diferenciados para explicar o enrosco que Elon Musk se meteu.
O modelo de Bertrand é um modelo de oligopólio em que a variável de escolha adotada pela firma é o preço. No entanto, os resultados variam em função das características dos bens, se homogêneos ou heterogêneos (diferenciados). Um resultado importante do modelo de Bertrand para bens homogêneos é aquele em que os preços praticados pelas empresas são iguais ao seu custo marginal, solução conhecida por “Paradoxo de Bertrand”, pois leciona que, apesar da estrutura de mercado de oligopólio, o resultado do modelo é o de mercado competitivo. Este fenômeno é demonstrado na figura 1 quando o mercado envolve um duopólio de firmas idênticas[3].
Quando, no entanto, as firmas operam com bens diferenciados, as funções de reação de cada uma delas relacionam os preços das empresas entre si e o ponto de equilíbrio é aquele em que os preços cobrados são superiores aos seus custos marginais em razão da heterogeneidade dos produtos. O equilíbrio de Bertrand com bens diferenciados é demonstrado pelo ponto A na figura 2.
O Twitter e as demais empresas deste mercado atuam em oligopólio com bens diferenciados e a variável estratégica de concorrência utilizada por elas é o preço cobrado às empresas de marketing e propaganda pelas informações dos consumidores. Estamos diante, então, de uma solução semelhante àquela observada na figura 2.
A demissão voluntária de 1/3 dos empregados do Twitter piora substancialmente a estrutura de custos da empresa, elevando, sobretudo, o custo marginal. Neste caso, como se pode verificar pela figura 3, a função de reação do Twitter se desloca para a direita na proporção do aumento do custo marginal.
Um ponto merece destaque nesta figura: para cada preço cobrado pelos concorrentes () ocorre o aumento do preço do Twitter (de para ). Na verdade, o erro cometido por Elon Musk ampliou as possibilidades de lucro das empresas concorrentes e reduziu as possibilidades de lucro do Twitter.
A depender de quão agressivas forem as concorrentes, os custos do Twitter tenderão a aumentar e as consequências são imprevisíveis.
[1] O Twitter e as demissões involuntárias e voluntárias: isso preocupa Elon Musk? – WebAdvocacy
[2] Tradução livre da expressão original de Milton Friedman “There is no free lunch”.
[3] As funções de reação têm o formato alcançado na figura 1 porque: (i) as firmas não praticam preços menores do que os seus custos marginais; (ii) dividem o mercado quando os preços são iguais e superiores aos seus respectivos custos marginais; e (iii) não vendem nenhuma quantidade do bem quando o seu preço é superior ao preço do concorrente.