Editorial

Nesta semana o mandatário do Brasil afirmou que no ano de 2024 a ausência de feriados prolongados será responsável pelo aumento do PIB no país.

Será mesmo?

Esta é uma afirmação que pode levar a uma interpretação errônea de como a economia real funciona, levando a crer que os feriados paralisam todos os setores da economia de igual forma, o que definitivamente não acontece.

Tabela 1. Participação dos setores no PIB brasileiro – 2022

Setor%
Agropecuária7
Indústria21
Serviços59
       Transportes, armazenagem e correio3
Outros14
Fonte: IBGE

Elaboração: WebAdvocacy

A pausa para o setor industrial (21% do PIB em 2022), por exemplo, é insumo para o setor de turismo, que é parte integrante do setor de serviços (59% do PIB em 2022), uma vez que os feriados, sobretudo os longos, alimentam os setores de transportes, de hospedagem e de bares e restaurantes, entre outros.

A esse respeito, vale mencionar que o setor de turismo está inserido dentro da subcategoria de serviços do IBGE denominada transporte, armazenagem e correio, que representou, em 2022, nada mais nada menos que 3% do PIB (4% do setor de serviços).

É verdade que o número de paralizações das indústrias em razão de feriados afeta negativamente a produção industrial, mas também é verdade que há uma correlação positiva entre o número de feriados e o faturamento do setor de turismo[1].

Dessa forma, não se pode dizer categoricamente que os feriados são de todo mal para o PIB brasileiro, pois ao mesmo tempo que reduzem a atividade no setor industrial, também ampliam a atividade no setor de turismo (serviços).

A afirmação de que a redução do número de feriados longos ampliará o PIB é vaga, pois não é o número de feriados que define o PIB, mas sim o que se faz com o número de feriados. É preciso lembrar que o PIB é, por definição, a somade todos os BENS e SERVIÇOS finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano, e, como tal, o crescimento deste importante indicador se dá pela combinação de bens e serviços e não somente pela produção de bens ou pela produção de serviços.

É o efeito líquido entre a possível “queda” de produção no setor industrial resultante do menor número de dias úteis e o “ganho” do setor de turismo em razão do maior número de dias “inúteis” que precisa ser levado em consideração na hora de avaliar o efeito real dos feriados nacionais sobre PIB.

Portanto, o que importa é o efeito líquido dos feriados sobre o PIB e não os feriados em si.


[1] Esta reportagem da Agência Brasil mostra a importância dos feriados e datas festivas para o setor de turismo: Turismo brasileiro cresce 47,7% em abril, aponta FecomercioSP | Agência Brasil (ebc.com.br)

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