Entre guerras comerciais e ataques de drones: uma economia de paz no século XXI ainda é possível

Cristina Ribas Vargas

Na última semana as notícias acerca da trégua comercial que vem sendo construída entre China e EUA indicavam um possível cenário econômico internacional de maior calmaria. Os acordos alinhavados primeiro em Genebra, e semana passada em Londres, indicavam que os gigantes se encontravam obrigados a buscar uma solução conjunta que possibilitasse a continuidade das transações comerciais, ao menos dos bens e tecnologias atualmente essenciais para ambos os lados. Embora os acordos gerem um certo alívio para aqueles que temiam uma redução drástica das transações em escala global, o problema está longe de ser solucionado. Exportações da China de minérios necessários para o desenvolvimento de tecnologias avançadas, os chamados minérios de terras raras, e chips e semicondutores dos EUA específicos para o desenvolvimento de inteligência artificial tem sido os principais objetos de discussão, cujas tarifas e vigências ainda parecem estar em definição. Para além das disputas sobre os itens da pauta comercial de cada país, o que está em jogo são estratégias que podem definir o rumo das potências hegemônicas ainda neste século. Neste sentido, a China manifestou defender a necessidade de uma visão holística fundamental para a solução do conflito. A solução bilateral é vista pelo país como temporária, sendo necessária uma solução multilateral, que contemple os interesses de todos os países participantes da economia internacional.

Contudo, enquanto aguardávamos a solução por meio de acordos pacíficos entre as duas potências, o noticiário econômico nos últimos dias foi suplantado pelas notícias envolvendo o conflito bélico entre Irã e Israel.  Agora já não se trata apenas do ajuste comercial entre as duas grandes potências, cujas consequências impactam o resto do mundo, mas da exaustiva e já conhecida estratégia de aquecer a economia pelas demandas oriundas da guerra. E desta vez, envolvendo um país cujo programa nuclear é sabidamente bem desenvolvido.  Não por acaso os analistas de relações internacionais tem sido diuturnamente questionados acerca da possibilidade de um conflito global. Enquanto a maioria dos analistas parece acreditar que uma terceira guerra mundial é pouco provável, vale lembrar que conflitos no oriente médio não raramente ocorrem em paralelo às manifestações de preocupação em torno do déficit e recessão econômica nos EUA.  De fato, o apoio militar dos EUA a Israel nas últimas décadas parece não contribuir muito para a redução dos conflitos na região, mas sim consolidar seu apoio ao parceiro estratégico. Com a eclosão do conflito, efeitos como elevação do preço do petróleo, e busca por ativos mais seguros já podem ser observados. E neste caso em particular, há que se observar que o Irã é um dos grandes exportadores de petróleo para China e Índia.

Os limites ao conflito global derivam de duas forças: primeiro que um conflito nuclear na atualidade poderia aniquilar a possibilidade de vida no planeta, segundo, não são as nações que exportam, mas sim as empresas, e em última instância o capital que as sustenta. Senão, por que outro motivo empresários que financiaram a campanha do atual presidente Trump estariam a censura-lo neste momento?

Neste ponto da análise é forçoso reconhecer a importância da China para sustentar uma posição de contrapeso na estratégia de construção da paz internacional, para além da necessidade de rever regras de comércio internacional. Existe quase um consenso sobre a peculiaridade da economia chinesa, e da impossibilidade de compará-la às demais economias liberais, haja vista que não se trata de uma economia totalmente capitalista, nem de uma economia comunista fechada, tendo sido denominada por alguns como economia socialista de mercado, o que a coloca em outro patamar em termos de organização da produção social. No entanto, aqui não se discute o processo de construção socioeconômico de cada país, mas sua estratégia de inserção na economia global. E é um fato que a inserção internacional chinesa não se deu pela via imperialista, contudo, em pleno século XXI está a enfrentar as consequências de uma guerra que impacta diretamente em seu desempenho comercial.

Neste caso, conto com a sabedoria chinesa e os ensinamentos da Arte da Guerra de Sun Tzu, “a glória suprema consiste em derrotar o inimigo sem lutar”. Espero que realmente vejamos o fim desse tipo de conflito ainda neste século, mas temo que tenhamos que enfrentar muitos desafios relacionados à instabilidade de preços de energia a alimentos até o final do ano.


Cristina Ribas Vargas. Doutora em economia do desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUC/RS e Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.   Atuou como professora substituta na UFRGS e professora adjunta em instituições de ensino privado. É economista da Administração Pública Federal desde 2005, e atualmente está atuando na CGAA2 do Cade.

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Cristina Ribas Vargas